No fundo do mar o Pargo da Rádio ao Largo entrevista o Cação

-- Amigo Cação,
qual é a sensação
de ser cação?
-- A sensação?...
-- Sim, qual é a sensação
de ser cação?
-- Essa da sensação,
passo.
Se queres saber o que eu faço,
digo-te já: caço e caço,
com gula e sofreguidão,
senão não era cação.
Já viste esta barbatana?
Menor que a do tubarão,
porém com muito mais gana.
É que aqui o Cação caça
sete dias por semana.
--Sem descansar?
--Descansar? Mas o que é isso?
Ó Pargo, és cá um castiço...
Ouve esta: desde a nascença
que qualquer cação só pensa
em trabalho!
Cação quando não trabalha
encalha,
não há ninguém que lhe valha,
está pronto para o cemitério!
-- A sério?
-- A sério, Pargão, a sério.
E agora passa-me um fado.
Passa o Fado do Cansado.
-- A pedido do cação,
Cansado, fado-canção!

----------------

                                                                                          Para ouvir a entrevista:



 

Para ouvir o Fado do Cansado:

Fado do Cansado

Chove, chove a toda a hora, 
de fora de água ficou 
só um choupo como um marco, 
passei lá com o meu cavalo 
mas tivémos de ir de barco, 
eu aos remos, ele à poupa, 
todo o caminho calado 
com uma palhinha na boca.
 
Muito ao longe um gato bravo
miava cantando o fado. 
Coitadinho de quem mia 
de um galho dependurado, 
ai!, 
nunca sabe quando cai. 
Ai ondas do verde prado 
onde feliz eu vivia 
com o meu cavalo Cansado!