A EXCURSÃO DOS GAMBOZINOS 9: SALA DOS ARREPIOS

A barulheira dos gambozinos a subirem as escadas, falando alto e batendo os pés, incomoda os velhos monstros do Torreão do Medo que preferem nem aparecer. 
Fica apenas a Bicha das Sete Cabeças, a qual  por ser de pedra e estar  embutida na parede não pode fugir para o telhado. Os gambozinos estacam diante dela, maravilhados. Todos querem fazer festinhas às sete horríveis cabeçorras.
-- Que lindos gatos siameses! 
-- Bss, bss, bss... Vocês arranham?
-- Arranhamos só às vezes...-- respondem as sete enormes línguas das sete enormes bocas.
Os gambozinos despedem-se: 
-- Adeus, coisinhas fofas!
Estão desejosos de passar à famosa Sala dos Arrepios:
Alta, vazia, sombria, 
o seu bafo a pedra podre
entontece e arrepia! 
A sala merece a fama que tem. Apanhados por sucessivas ondas de arrepios, dezasseis gambozinos de cabelos em pé dão uma volta lá dentro e vão-se logo embora enregelados e agoniados, conduzidos pelo professor Papão que não pára de espirrar. 
Fica esquecido para trás o Mais-Pequenino. Está a um canto, feliz da vida! Os arrepios não o afligem nada, são muito altos, passam-lhe por cima. Quanto ao bafo a pedra podre, ele nem o sente porque ainda vai a arrotar às cascas de cebola que ceou na véspera.
O Mais-Pequenino acaba de descobrir uma tabuleta minúscula que diz assim:
SOLAR DOS RATOS MARQUESES   
A entrada está camuflada. 
Chaminé não é. 
Porta não é, nem cancela, 
nem postigo nem janela. 
Rente ao chão palácio encobre. 
Só quem procura a descobre!
Outros gambozinos maiores  talvez não conseguissem achar ali entrada nenhuma -- mas o Mais-Pequenino, por ser tão baixinho, dá logo com uma abertura na base da parede. "Será uma toca?", pensa ele.  Estende um dedo e tlim! tlim!, uma sineta tilinta lá dentro. 
O Mais-Pequenino encolhe-se quanto pode e entra -- dando sem querer uma valente cabeçada na sineta: tlim-tlim! tlim! tlim! tlim!
 

 
 
 
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