A barulheira dos gambozinos a subirem as escadas, falando alto e batendo os pés, incomoda os velhos monstros do Torreão do Medo que preferem nem aparecer.
Fica apenas a Bicha das Sete Cabeças, a qual por ser de pedra e estar embutida na parede não pode fugir para o telhado. Os gambozinos estacam diante dela. Todos querem fazer festinhas às sete horríveis cabeçorras.
-- Que lindos gatos siameses!
-- Bss, bss, bss... Vocês arranham?
-- Arranhamos só às vezes...-- respondem as sete enormes línguas das sete enormes bocas.
Os gambozinos despedem-se:
-- Adeus, coisinhas fofas!
Estão desejosos de passar à famosa Sala dos Arrepios:
Alta, vazia, sombria,
o seu bafo a pedra podre
agonia e arrepia!
A sala merece a fama que tem. Apanhados por sucessivas ondas de arrepios, dezasseis gambozinos de cabelos em pé dão uma volta lá dentro e vão-se logo embora enregelados e agoniados, conduzidos pelo professor Papão que não pára de espirrar. Fica esquecido para trás o Mais-Pequenino. Está a um canto, feliz da vida! Os arrepios não o afligem nada, são muito altos, passam-lhe por cima. Quanto ao bafo a pedra podre, ele nem o sente porque ainda vai a arrotar às cascas de cebola que ceou na véspera.
O Mais-Pequenino acaba de descobrir uma tabuleta minúscula que diz assim:
SOLAR DOS RATOS MARQUESES
A entrada está camuflada.
Chaminé não é.
Porta não é, nem cancela,
nem postigo nem janela.
Rente ao chão palácio encobre.
Só quem procura a descobre!
Outros gambozinos maiores talvez não conseguissem achar ali entrada nenhuma -- mas o Mais-Pequenino, por ser tão baixinho, dá logo com uma abertura na base da parede. "Será uma toca?", pensa ele. Estende um dedo e tlim! tlim!, uma sineta tilinta lá dentro.
O Mais-Pequenino encolhe-se quanto pode e entra -- dando sem querer uma valente cabeçada na sineta: tlim-tlim! tlim! tlim! tlim!
A história continua em:
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