O GATO DAS BOTAS E O MARQUÊS DE CARABÁS (Chá das cinco)
Com o passar do tempo, o Gato das Botas foi-se habituando à vida palaciana. Já não ia caçar ao mato, já não comia ratos... Em contrapartida pôs-se a gostar de açúcar, coisa que lhe fazia muito mal à saúde.
Quando ia tomar chá com o Marquês de Carabás, às vezes ouvia um raspanete:
-- Sape, gato lambareiro,
tira a mão do açucareiro!
O açúcar tem torrões,
cada torrão dez tostões!
--Ó meu amo, dez tostões
é muitíssimo dinheiro!
Se eu tivesse dez tostões
bem que podia comprar
rojões, toucinho e galinha.
Convidava para cear
as gatinhas da Rainha:
a do pêlo de enrolar,
a branca e a siamesa,
três prodígios de beleza,
todas três à minha mesa...
-- E a mim, não me convidavas?
-- Ó meu amo, eis a questão:
convidava mas primeiro
havia de pôr a mão
nos torrões do açucareiro!
O Gato do Pêlo em Pé- Caminho, 2ª ed.-- adaptação