À hora do calor, desliza pelo rio um cardume de tainhas. O cavalo Cansado para de beber e chama-as:
-- Onde vão vocês, tainhas?
-- Vamos rezar ao santo faquir enguia, para ele nos ensinar o melhor caminho a seguir na vida.
O cavalo Cansado também gostaria que lhe indicassem o melhor caminho a seguir na vida. Por exemplo: gostaria de saber se há-de ficar no prado ou se há-de viajar até ao hipódromo para ser um cavalo de corridas.
Decide avançar pela margem, acompanhando o rumo das tainhas do rio. Ao chegar ao pego, deixa de as ver, pois elas desceram às profundezas.
Todas juntas nas águas escuras, esperam que o santo faquir enguia se desloque, dando-lhes um sinal acerca da melhor direcção a seguir na vida: para a esquerda? para a direita? para a frente? para trás?
O santo faquir enguia nem se mexe. Está a meditar, a falar sozinho em pensamento:
“Há quinze anos que aqui vivo,
sou mais velho do que moço.
Não estremeço, não me rio,
não me coço, não me torço.
E as tainhas que aí estão
vou fingir que não as ouço,
faço um poço de silêncio
no silêncio deste poço.”
Lá em cima na margem, o cavalo não sabe o que se passa. Mergulha a cabeça e o pescoço todo, tentando ver debaixo de água. Pelas narinas dele escapam-se bolhas de ar que sobem com ruído: blu, blu, blu, blu, blu...
As tainhas fogem -- e o santo faquir enguia também! Milagre!