O Jogo das Caricas

O jogo das caricas

 

Nos campos em redor da escola havia erva alta, de forma que os bichos que por lá passavam podiam espreitar pela rede da cerca sem serem vistos. 

O que mais os intrigava eram os alunos no recreio a jogarem às caricas sobre um tabuleiro pintado a giz no chão. Estariam vivas aquelas rodinhas coloridas a pularem de casa em casa?

Para esclarecer o mistério, uma ninhada de javalis entrou ao anoitecer à sorrelfa, escavando sob a rede. Remexeram as caricas todas, deixaram-nas a tresandar e foram-se embora com os focinhos doridos.

Na noite seguinte foi a vez de uns musaranhos invadirem o recreio para jogar às caricas. Que triste espetáculo! Eles não respeitavam as regras do desporto, atropelavam-se, só queriam ganhar depressa. O chefe quebrou uma unha, desistiu e os outros seguiram-no a chiar.

Na terceira noite, finalmente, apareceu um bicho que valia por muitos, o famoso Faber Lignarius Lusitanicus, mais conhecido por bicho-carpinteiro. Descobriu logo a maneira de usar a cauda como taco de hóquei, sem falhar uma jogada, tudo a eito. 

Não se demorou por ali, porque um bicho Faber Lignarius Lusitanicus é assim mesmo, sempre a correr dum lado para o outro. Mas ainda teve tempo para deixar no chão uma mensagem desenhada com caricas, especial para os meninos da escola.

                                                   

 Ala que se faz tarde!, galgou a cerca, e uma vez do lado de fora remendou-a num ápice com tudo o que apanhou à mão: raminhos secos, bocados de jornal, penas de gaivota...

Não sei se aquela reparação terá durado muito, mas pelo menos a intenção dele foi boa.